quinta-feira, 28 de outubro de 2010

SINAIS DE MUDANÇA

A questão não é mais se haverá aquecimento global: o processo já está em andamento e o que se vê  agora são apenas seus primeiros efeitos.



A Terra passa regularmente por períodos frios, as eras glaciais, e amenos, chamados de interglaciais. São mudanças climáticas severas que redesenham a paisagem global. Até agora, essas transformações se processavam no ritmo natural: de tão lentas, eram imperceptíveis no espaço de uma geração. Os sinais recentes do aquecimento do planeta, porém, acumulam-se em uma velocidade considerada inédita pelos cientistas. O ciclone Catarina, que se formou neste ano no litoral sul do Brasil, foi considerado por um grupo de cientistas ingleses como sinal antecipado da mudança do clima. Pelas contas dos especialistas, tormentas assim serão normais nessa região do Atlântico daqui a uma década. Blocos de gelo de tamanho inusitado têm se desprendido dos pólos. Em 1998, um deles, do tamanho do Distrito Federal, se soltou de uma geleira na Antártica. Outro, com 720 bilhões de toneladas de gelo e três vezes maior que a cidade do Rio de Janeiro, desprendeu-se em 2002. Dois séculos atrás, a Praça de São Marcos, em Veneza, era inundada uma ou duas vezes por ano. Agora é interditada quase toda semana por causa do avanço das águas. No sul dos Estados Unidos, o estado de Louisiana perde cerca de 16 hectares de terra por dia. Os Everglades, turísticos pântanos da Flórida, podem desaparecer até o fim deste século. Países asiáticos, como Bangladesh e China, estão perdendo faixas de terra férteis usadas para o cultivo do arroz.


São mudanças que afetam a vida de todas as espécies, inclusive o homem. Globalmente, a década mais quente já registrada foi a de 1990. Essa tendência é observada também nos últimos cinco anos. Atribuem-se a uma inédita onda de calor 30 000 mortes na Europa Ocidental, no verão de 2003. Um estudo da Organização Mundial de Meteorologia, ligada às Nações Unidas, estima que pelo menos 160 000 pessoas morram por ano em conseqüência das mudanças no clima. Entre as causas da mortandade está a elevação das marés, que inviabiliza fontes de água na foz de rios. No Egito, o avanço do mar está deixando a água do Nilo salobra e afetando o abastecimento da região. A febre do oeste do Nilo chegou aos Estados Unidos em um ano de fortes secas, por meio de aves migratórias infectadas, e nos últimos cinco anos matou 500 americanos. 

O monstro de gelo
Um dos maiores icebergs já observados, o A-38 – de 144 por 48 quilômetros – nasceu ao se desprender da camada de gelo antártica em 1998. Desde então se dividiu em vários pedaços, que vagam pelo Atlântico Sul, representam perigo para a navegação e são por esse motivo continuamente monitorados. A seqüência ao lado, que cobre um período de uma semana, acompanha uma de suas subdivisões. Uma montanha de gelo com a área aproximada da cidade de São Paulo partiu-se em duas em abril deste ano. Icebergs desse porte tendem a se tornar cada vez mais comuns com a aceleração do derretimento do gelo polar.



Segundo as contas do físico e astrônomo James Hansen, diretor do Instituto Goddard, da Nasa (a agência espacial americana), essa sobrecarga de calor é de cerca de 1 watt por metro quadrado. Isso equivale a manter acesa por 150 anos, em cada metro quadrado da superfície do planeta, uma lâmpada de enfeite de Natal. Parece pouco, mas não é. "Os estudos da história do clima mostram que pequenas forças, mantidas por muito tempo, podem causar grandes mudanças", explica Hansen. A maior parte do coeficiente energético gerado pelas "lâmpadas" de Hansen é absorvida pelo mar. Medições do oceanógrafo Sydney Levitus, do serviço de meteorologia americano, mostram que a quantidade de calor nos oceanos aumentou 10 watts por metro quadrado nos últimos cinqüenta anos. Levitus afirma que, mesmo que se venham a reduzir as emissões e controlar o efeito estufa, a atmosfera terrestre continuará esquentando por no mínimo 100 anos, devido à absorção do calor emitido pelos oceanos. É que, assim como a água demora para se aquecer, também demora para perder calor. As conseqüências são facilmente imagináveis. "A elevação de apenas 1 grau onde a temperatura era zero significa que, ali, tudo o que é gelo vai derreter e fazer aumentar a quantidade de água escorrendo para os oceanos", lembra o físico Edmo Campos, coordenador do Laboratório de Modelagem dos Oceanos, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo. Para completar, como qualquer corpo aquecido, o mar se expande. Esse fenômeno, combinado com mais água, faz avançar as marés. O que se vê agora, para muitos cientistas, é apenas o começo de uma tendência que vai se agravar ao longo das décadas. 




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